quinta-feira, 1 de julho de 2010

"Garoto Perdido"

(Gancho - Caneta BIC, com as cores invertidas)

À minha volta o mundo, em um ritmo frenético, é devorado. Eu vivo e sonho como nunca, minha cara Wendy.

A história de Peter Pan sempre me fascinou. Impossível não se entreter com as aventuras de garotos perdidos que voam, gozam da juventude eterna e combatem piratas em uma terra mágica onde tudo é possivel.
A idéia de Peter Pan influenciou inclusive o mundo da psiquiatria, que utiliza a terminologia “síndrome de Peter Pan” para adultos que se recusam a agir conforme a idade ou que receiam responsabilidades e comprometimentos. Também existem estudos acerca dos arquetipos femininos da obra, representados por Sininho e Wendy.
Toda a história me parece altamente metafórica. Os piratas são adultos ganaciosos, invejosos, vingativos e rancorosos, que vivem em constante luta contra os garotos perdidos, representantes de uma juventude transviada, rebelde, livre e irresponsável. Capitão Gancho e Peter Pan. Adultos e crianças. Pais e filhos.
Os piratas são interessantíssimos, pois querem voar como os garotos perdidos. Trata-se de uma busca pela infância perdida. Trata-se de uma busca pelo sentimento de felicidade capaz de fazer voar. Infelizmente esta capacidade se perdeu em meio a sentimentos egoístas com o passar do tempo. Na história de James M. Barrie o tempo é personificado pelo crocodilo gigante com um relógio em seu interior. O tempo é um perseguidor implacável que incomoda principalmente os mais velhos, devorando-os pouco à pouco ou engolindo-os inteiramente. Também gosto da personificação do tempo na figura do coelho de Lewis Carroll em Alice: sempre a nossa frente, sempre com pressa, sempre correndo e sempre atrasado.

“Carta à Wendy”
Todos estão morrendo.
Sou o único que ainda quer ser jovem para sempre.
O único qua ainda não quer crescer.
Sou o último garoto perdido.
Nunca vou envelhecer.

Segue abaixo um velho conto dentro do contexto, publicado em meu velho fotolog, com pequenas revisões mas ainda com possíveis imperfeições.

“Voar”
Havia um par de asas em meio aos escombros de sua tragédia.
Resolveu colocar-las e sentiu-se leve, muito leve. Tão incrivelmente leve que parecia poder voar. Quando deu-se conta, estava flutuando.
O inesperado poder de voar o fez esquecer-se de suas preocupações. Era a personificação do sentimento de liberdade. Era livre como um pássaro. Simplesmente voava. Sobrevoou ao redor do lustre de seu quarto, deu um rasante sobre a cama e saiu pela janela aberta. Sentiu o vento e logo depois o sol iluminou seu rosto. Iniciou uma subida vertiginosa e tudo foi ficando menor. Suas tragédias começaram a diminuir. A triste casa, cheia de pessoas tristes, foi diminuindo até tornar-se um pequeno telhado em meio a outros pequenos telhados de pequenas casas, que eram separadas por pequenas ruas cheias de pequenos carros e pessoas insignificantes. Logo, tudo era pequeno e insignificante. Continuou seu caminho para o alto. Se conseguisse voar alto o bastante o mundo inteiro tornaria-se apenas um pequeno ponto que desapareceria gradativamente no decorrer da subida.
Entretanto, quanto mais subia mais a temperatura baixava. Já não podia suportar o frio. Começou a sentir tontura devido à escassez de oxigênio e viu-se obrigado a interromper sua trajetória. Parado no ar a uma altura desconhecida, com os braços abertos em meio à imensidão celeste, contemplou o horizonte. Era possível ver a curvatura da terra e o sol refletia um oceano distante. Nenhum pensamento ocupava sua mente. Em meio ao silêncio e a solidão era possível sentir o movimento do universo ao seu redor. Deixou-se levar. Foi durante esse momento de integração com o mundo que criou seu próprio destino. Poderia fazer o que bem entendesse. Era livre e tinha asas para voar. Decidiu viajar.
Apesar de ser aparentemente a decisão mais lógica a ser tomada naquele momento, sua vontade de viajar possuía origem em um instinto primitivo. Vivia o inverno de sua vida e estava motivado pelo mesmo sentimento de migração que faz com que, todos os anos, milhares de pássaros voem em busca de terras desconhecidas. Era como um chamado distante, que emanava de dentro de seu próprio corpo, clamando por algo que lhe faltava.

2 comentários:

  1. Rafael Bagre-sem-cabeça2 de julho de 2010 às 15:34

    Finalmente uma atualização!

    Gostei do post. Lembrou um pouco de Dorian Gray -no caso, a vontade de ser jovem eternamente- e no como isso denegriu a sua alma. Você pode tentar, mas a ingenuidade que alimenta a alma não é eterna.

    Por sinal terminei de ler o livro. Muito bom.

    Estará em casa nas férias? Tem planos já delimitados? Ve se responde, cacilda!

    Abrass! Inté!

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  2. Se voce pode imaginar voce pode realizar!
    Adoro seus textos. Adoro sua mente e a nossa sintonia!
    Beijos da sua Wendy...

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