segunda-feira, 13 de setembro de 2010

"Sonhando com um País Melhor"

(North Pasárgada Sunset - Grafite)


Sonho com um País melhor. Trata-se de um sonho metafórico. Quero deixar claro que não possuo qualquer aspiração política. Não integro nenhum partido político. Na verdade considero-me um alienado. Considero-me um exilado político-cultural. Vivo em uma pequena cidade ao norte de Pasárgada, longe do domínio monárquico cosmopolita da vizinha sulista, e que ainda mantém um ar provinciano. Manuel possui um terreno ao lado de minha casa. Ele pretende construir uma casa de veraneio. Velho Manuel! Saudosista como sempre! Há alguns dias atrás afirmou-me com um suspiro: “Pasárgada já não é mais a mesma... Bons idos tempos, que desconhecem caminhos de regresso!”

Onde vivo, pela televisão aberta, é possível acompanhar as eleições. Tenho acompanhado os debates presidenciais

Manuel vê os debates comigo, mas não quer saber de eleições. Está satisfeito com a monarquia e é amigo íntimo do Rei. Inclusive, foi justamente devido a política que ele resolveu mudar-se definitivamente para Pasárgada. Velho Manuel! Realista como sempre! Há alguns dias atrás, após o horário eleitoral, afirmou-me com outro suspiro: “O Brasil segue na mesma... Ordem só na Bandeira, o País desconhece os caminhos do progresso!”

Apesar de não possuir um partido, tenho senso crítico. Dentre todos os candidatos, Plínio Soares de Arruda Sampaio me chamou a atenção. Posso estar equivocado em meu julgamento, mas acredito que ele, assim como eu, também sonha com um País melhor. Ao menos ele é possuidor de um espírito de luta louvável. Ele tem 80 anos e um propósito inabalável.

Acredito que morrerei jovem, mas se eu chegar aos 80 anos provavelmente irei me aposentar (independentemente da grandeza de minhas convicções).

Resolvi escrever uma carta ao candidato Plínio, manifestando minha opinião e meu apoio ao seu sonho:


“São José dos Campos - São Paulo. Dia 13 de Setembro de 2010.


Prezado Mestre Plínio Soares de Arruda Sampaio,


Sei que nas vésperas das eleições o senhor possui inúmeros compromissos. Em minha carta não peço que o senhor me responda. Peço-lhe que leia o pouco que tenho a dizer.

Meu nome é Cxxxx Fxxxxxxxx Txxxxxxx. Tenho 28 anos e moro em São José dos Campos, no interior de São Paulo. Economicamente integro a chamada “classe média” deste País.

Escrevo-lhe para manifestar o meu apoio a sua candidatura. Acredito no senhor. Suas palavras e sua postura conquistaram meu voto e minha confiança.

Confesso-lhe que a atual situação política do Brasil me desagrada profundamente. Estou desacreditado. Sinto-me politicamente inválido. Talvez todos os seus eleitores (quiçá até mesmo o senhor) compartilhem, mesmo que em parte, de meus sentimentos de impotência política.

Como mudar um País com um índice de educação tão baixo; com uma classe média tão gananciosa; e com uma burguesia tão poderosa?

Grande parte dos eleitores brasileiros vê o seu discurso como utópico e desmerece todos os signos que remontam às ideologias esquerdistas. Socialismo, Comunismo, Reforma Agrária, Cuba, União Soviética, etc. - são classificados como termos pejorativos.

A sociedade moderna transformou toda a filosofia esquerdista em um clichê vazio e irreal. Os grandes pensadores esquerdistas não passam de curiosidade acadêmica. O martelo e a foice não passam de um desenho sombrio nos livros de história.

A esquerda hoje em dia é moda. É “cult”. A esquerda não evoluiu e virou passado. Um passado que agrega, em sua maioria, saudosistas.

Uma parte da militância esquerdista consciente é formada por jovens universitários que trazem consigo um discurso boêmio e inflamado, uma barba por fazer, chinelos de couro e uma camiseta do Che Guevara. Outra grande parte é formada por militantes que obtiveram inúmeras derrotas e desilusões no decorrer de uma vida de lutas, e parecem duvidar das próprias crenças.
Ambos são vistos com descrédito.

A nossa sociedade não crê na mudança. Ouso dizer que, inclusive, teme a mudança. O brasileiro vive a cultura do medo: onde tudo pode ser pior do que está, caso mude. O brasileiro tem medo de piorar caso tente ser melhor e por isso não se arrisca. Trata-se de um povo alienado e sem consciência da riqueza existente no próprio País.

Sua campanha conta com uma minoria que realmente não teme a mudança. Uma minoria que acredita ser possível um país melhor. Entretanto somos uma minoria insuficiente. Somos alguns poucos caolhos em meio a uma democracia de cegos. Vivemos um exílio cultural.

Admiro suas conquistas e me entristece o fato de que a democracia atual estabeleça regras que impossibilitem a vitória de pessoas como o senhor. O sistema democrático nacional é falho.

Professor Plínio, a política neste país precisa ser repensada. A esquerda precisa ser repensada.

Até o momento o twitter tem se mostrado um grande aliado, mas não possui conteúdo (não passa de um fast-food informativo). O senhor possui projeção agora, mas se nada for feito esse interesse se dissipará; após as eleições outra novidade será a sensação do twitter.
A geração twitter é uma geração de consumistas de informação. Eles querem novas informações. Informações frescas. Novidades a todo o momento, cada vez mais rápido. Essa geração não sabe por que consome tanta informação e conseqüentemente não sabe o que fazer com ela. Trata-se de uma geração sem senso crítico e esse país precisa de formadores de opinião.

O Senhor precisa disponibilizar em seu site, e por ao alcance dos internautas, pormenores de suas propostas. Por exemplo: O seu plano de diretrizes fala em reforma agrária. Mas como será feita a reforma? A terra poderá ser vendida? Haverá acompanhamento do governo sobre a forma como a terra é cultivada? Quais serão os incentivos dados aos trabalhadores agrícolas?
(obs.: As pessoas temem a reforma agrária neste país porque todos os meios de comunicação tratam o tema de forma simplista; com especulações e “achismos”.)

É justamente explicitando os detalhes de suas propostas que o senhor e seu partido criarão um eleitorado formador de opinião.

Sei que o senhor possui assessores extremamente capacitados que cuidam de sua campanha, pois acompanho sua brilhante trajetória, e com esta carta não tenho o intuito de desmerecer o grande trabalho realizado até agora. Trata-se apenas de minha humilde opinião, que tem por finalidade contribuir com a campanha.

Talvez minha opinião seja irrelevante, mas quero que saiba que é honesta e de boa vontade.

O único que peço é, se possível, que me sejam enviados os detalhes (ou pelo menos uma indicação de onde estes detalhes estão) de como o partido cumprirá suas diretrizes (tais informações poderão ser enviadas no e-mail: xxxxxxxxxxxxx@xxxx.com.br).

Mais uma vez, parabéns por sua luta! Desejo-lhe boa sorte nestas eleições!

Conte com meu sincero apoio.

Atenciosamente,

Cxxxx Fxxxxxxxx Txxxxxxx"

terça-feira, 7 de setembro de 2010

"Reflexões em Terceira Pessoa"

(Auto-Retrato Ctrl+C Ctrl+V - Fotografia e Grafite)

“- Que coisa profundamente triste – murmurava Dorian – os olhos fixos no retrato. – Sim, profundamente triste!... Eu ficarei velho, aniquilado e hediondo!... Esta pintura continuará sempre jovem e bela. Nunca será vista mais velha do que hoje, neste dia de junho... Ah! Se fosse possível mudar os destinos; se eu pudesse conservar-me novo e essa pintura pudesse envelhecer! Por isto eu daria tudo!... Não há no mundo o que eu não estivesse disposto a dar em troca... Até a minha alma!...” (O Retrato de Dorian Gray)

Nunca me vi em nenhum de meus sonhos.
Me intriga o fato de meus sonhos serem sempre em primeira pessoa. Acredito que poucas coisas são mais interessantes do que observar a propria imagem; o proprio reflexo. Ver-se com os proprios olhos. Encarar-se e encarar o tempo. Encarar a mudança e a efemeridade inerente à condição humana.

Ultimamente tenho feito alguns auto-retratos, mas não gosto muito de me ver em fotografias. Compartilho um pouco da teoria dos antigos índios. Acho que, de certa forma, a fotografia aprisiona um pedaço da alma do fotografado. Aprisiona o fotografado em um instante específico do passado. Observar uma fotografia é obervar um passado imutável. Entretanto é preciso ter cuidado ao se contemplar algo estático.
Inúmeros Narcisos se afogaram em lagos de imagens e recordaçoes saudosistas. Inúmeros Dorians perderam as almas na busca pela perfeição que se esvai com o tempo.

Segue abaixo um pouco de passado. Outra postagem revisada do meu antigo fotolog. Foi escrita no dia em que embarquei pela primeira vez para Espanha.



“Embarco hoje (22/11/2007) pra Espanha. Devido a um imprevisto financeiro eu não comprei câmera fotográfica. Nada de fotos por enquanto. Providenciarei uma máquina na Europa.

Minha documentação está certa, minhas malas estão arrumadas (levo pouca bagagem, apenas o absolutamente necessário - exceto por uma pesada mala de presentes forrada de sabonetes natura e chocolates brasileiros) e eu já troquei meus reais por euros.

Eu vou, mas fica o lema do saudoso Jeremias: “EU NUNCA ME ARREPENDI!”



"Câmbio"


- Boa tarde, eu gostaria de comprar Euros. Qual é a cotação da moeda hoje?

- O Euro está cotado a 2 reais e 71 centavos para a compra, Senhor.

- Eu gostaria de comprar 1.200 Euros, por favor.
Após uma breve consulta à calculadora a atendente responde:

- São 3.252 reais, Senhor.

Retiro do bolso 3.252 reais e entrego o dinheiro a mulher. No total são 67 notas (65 notas com a figura da onça pintada e 2 notas com a figura do beija-flor).Após certificar-se da quantia a mulher retira da gaveta 12 notas de 100 Euros e as entrega a mim. As notas de 100 Euros são grandes, com tons de verde e azul, e possuem o desenho do Arco do Triunfo.

Enquanto analiso as 12 notas sinto alguém puxando a lateral da minha calça jeans. É um garoto de aparentemente oito anos.
Olho para o garoto, que continua agarrando minha calça, e me espanto ao reconhecê-lo. Ele sou eu com oito anos.

O garoto faz um sinal com a mão para que eu me aproxime. Ele quer cochichar algo no meu ouvido. Quando me agacho para ouvir e ele me acerta um tremendo tapa na cara.

O garoto, sério, me encara com os olhos fixos e com o dedo em riste diz:

- Seu imbecil! Você acabou de trocar 67 notas por 12, e ainda por cima repetidas! Chama a mulher e desfaz essa merda que você fez!

O garoto está irado e eu tento acalma-lo.

- Mas essas 12 notas valem a mesma coisa que as 67 que dei pra ela...

- Por acaso você, ou melhor, eu, vou parar de ter aula de matemática a partir dos 9 anos? Como que 67 pode ser igual a 12? – há um tom de sarcasmo na observação. Sempre gostei de observações sarcásticas.

- É por causa do valor da moeda. O nosso dinheiro é desvalorizado em relação ao Euro em função de aspectos sócio-econômicos complexos. Diga-se de passagem muleque, você vai estudar até os 25 anos e vai se formar em direito. – touché, garotinho insolente!

- Putz... direito? Ah não! Vou escolher outra faculdade. Direito deve ser chato pra porra. Vou é ser piloto de formula 1!

- Não vai não. Você vai desistir de ser piloto quando fizer 12 anos. – Garoto estúpido, acha que é dono da minha vida. Sei tudo o que vai acontecer nos próximos 17 anos da vida dele.

- Por que eu desisto de ser piloto? – o garoto parece intrigado com o futuro.- Isso não vem ao caso. O que quero esclarecer é que, por exemplo, o Dólar vale quase 2 vezes mais do que o nosso dinheiro, o real.

- Quem disse?

- Esse valor é ditado pelo mercado econômico, pela bolsa de valores, etc. É como se as notas fossem figurinhas. As notas como o Dólar e o Euro são mais raras que as notas de reais, e por isso você tem que dar 2 ou 3 notas de reais para cada nota de Dólar ou Euro.

- Tá bom, mas você deu 67 notas de reais e pegou só 12 notas de Euro! Você poderia ter conseguido pelo menos umas100 moedas! Que fossem 30 notas! Na escola, sempre que eu troco figurinha ou bolinha de gude o negócio é pau-a-pau. No máximo 2 por 1, se a figurinha for rara ou se a bolinha de gude for muito diferente. O que aconteceu com você? Ou melhor, o que aconteceu comigo? Trocar 67 por 12 é muita burrice! Tô vendo que eu vô envelhecer e ficar burro...

- Mas é porque depende do valor das moedas. 12 notas de 100 Euros valem mais do que 100 moedas de 1 Euro. E as 67 notas que eu dei pra mulher valem o mesmo que estas 12 notas.

-Pff... até parece. Pega de volta então. Quero ver se ela destroca. – o garoto sinaliza com a cabeça em direção a mulher do guichê, cruza os braços e me encara com um ar de desafio.

Garoto impertinente. Não posso parecer fraco perante mim mesmo. O que vou pensar de mim? Resolvo aceitar o desafio. Me volto para a mulher no guichê e digo que quero desfazer a compra.

- Infelizmente não é possível, Senhor.

- Porque não?

- Nós não “desfazemos” as compras, Senhor.

- Tá... então eu quero vender meus Euros.

- O preço de venda é 2 reais e 57 centavos, Senhor.

Isso totalizaria 3.084 reais. São 168 reais a menos do que eu tinha.
Olho para o garoto de 8 anos ao meu lado. Ele me encara com desprezo e conclui:
- Imbecil.”