domingo, 25 de abril de 2010

"Pesca com Baralho"


...........................................(Pesca com Baralho – Caneta BIC)
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Este foi o primeiro sonho que desenhei. Ele foi um sonho marcado pela clareza com que se desenvolveu. O que mais me impressionou foi a forma e a intensidade com que as imagens e sensações seguiram impressas em minha mente após o despertar. Pode-se dizer, paradoxalmente, que eu estava dotado de certa consciência durante o sono.
Tive a oportunidade de experimentar o estado de consciência plena durante o sono algumas vezes. No início a experiência se mostrou tão curiosa quanto assustadora (como no filme "Waking Life"). Com o tempo aprendi a relaxar e, pelo menos por uma vez, fui até mesmo capaz de aproveitar a situação. Mas esta é outra história.
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Pesca com Baralho
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Eu estava só, no alto de uma montanha muito alta. O topo desta montanha era completamente plano, como se houvesse sido cortado horizontalmente. Toda a superfície do terreno era coberta por um gramado verde, muito bem cuidado, que circundava um grande lago de águas escuras e calmas. A paisagem era incrível. Uma ilha em meio a um mar de nuvens que se estendia até o horizonte. Não era possível saber se o sol planejava nascer ou morrer. As luzes e as cores do céu unificavam a alvorada e o crepúsculo em um momento de atemporal permanência. Essas mesmas luzes e cores estão presentes em muitos de meus sonhos. Havia paz e uma leve brisa incapaz de agitar as águas do lago a minha frente. A única protuberância visível ao meu redor era uma pedra. Tratava-se de uma pedra baixa que, aparentemente, brotara do gramado. A pedra estava ao meu lado. Era circular com a parte de cima plana; pequena demais para ser utilizada como mesa; baixa demais para ser utilizada como banco. Em minha mão esquerda havia uma vara de pescar. Em minha mão direita havia um maço de cartas de baralho.
Eu estava feliz e não tinha nenhuma dúvida acerca do que fazer. Peguei uma carta do baralho e coloquei-a cuidadosamente no anzol da vara de pescar. Arremessei a isca inusitada e dei início à pescaria. Após alguns instantes, uma fisgada. Retirei o peixe da água sem grandes dificuldades. Tinha aproximadamente uns trinta centímetros e nada de especial. Retirei-o do anzol e levei-o até a pedra. Havia agora uma faca em minha mão direita. Abri a barriga do peixe e retirei a carta, intacta, de seu interior. Não me lembro com exatidão qual foi a carta retirada do peixe. Algo me diz que foi uma figura da cor vermelha.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

"Inverno"


..........................................................(Canoa - Grafite)
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Fui morar na Espanha em novembro de 2007. Conheci parte de minha família (tios, primos e avós) em Madrid, Barcelona e Granada. Também conheci outras cidades e viajei por diversos países da Europa. Desde então não parei mais de viajar. Sigo sem previsão nem vontade de parar. O próximo destino? Ainda não sei. Levo a vida que quero mas tem dias que acho que "não sou eu quem me navega".
O texto abaixo foi publicado no meu fotolog, alguns dias antes do meu embarque para o velho mundo, e aqui sofreu mudanças pouco significativas (uma pequena revisão).
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05/11/07
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Escolhi ir pra ESPANHA.
Vou pra Espanha. Não sei o que esperar. Mas espero. É difícil lidar com a situação. Vou embora, mas ainda estou aqui. É duro estar aqui e saber que vou embora. É como se eu já não estivesse mais aqui. O problema é que eu também ainda não estou lá. Isso me deixa no meio de lugar algum. É um “momento gerúndio” na minha vida (estou “indo” – estou em algum lugar que não é nem o ponto de partida e nem o ponto de chegada). Não consigo fazer nada construtivo. Tenho cultivado paixões impossíveis e bebedeiras homéricas. Meu problema é que eu gostaria de viver todas as minhas possibilidades. Quero seguir todos os caminhos ao mesmo tempo. Quero ir em todas as direções. O problema é que eu só tenho uma vida. Tenho infinitos sonhos e vivo uma realidade. Todas essas coisas têm dificultado minhas escolhas. Escolher uma coisa é extremamente difícil. Escolher uma possibilidade é não escolher uma infinidade de possibilidades. Escolhi ir pra Espanha.É a vida que eu quero ter.
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Inverno
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Nasceu no dia 15 de julho e foi feliz na infância. Na adolescência teve muitos amigos e namoradas. Apesar da confusa adolescência, estudou. Passou no vestibular e foi para a cidade grande, crescer. Formou-se em direito. Tornou-se advogado. Arrumou um emprego que lhe pagava um bom salário. Comprou um carro. Iniciou um relacionamento estável com uma bela garota, médica. Planejou filhos e netos. Traçou um plano de carreira. Sonhou com o glamour de sua vida promissora. Sabia que era especial e que mudaria o mundo. Pensou que após cumprir seu destino poderia se aposentar na praia. Visualizou a própria morte, que ocorreria durante um sono profundo, em baixo de um edredom, em uma fria noite de inverno. Na segunda feira, dentro do ônibus, desistiu de tudo. Pediu demissão. Terminou o relacionamento. Vendeu tudo o que tinha. Mudou-se para a praia. Nas frias manhãs, surfava. Nas longas tardes, pescava. Durante a noite bebia pinga e jogava dominó. Conheceu uma morena que não tinha dentes. Casou-se e teve três filhos, que andavam nus, com o nariz cheio de areia e ranho. Morava em uma casa modesta, de um quarto, alugada. Surfava cada vez menos. Pescava cada vez menos. Bebia cada vez mais. Saiu novamente bêbado do bar. Contemplou o mar, velho amigo. Fechou os olhos, abriu os braços e deliciou-se com a brisa noturna. Trôpego, entrou em casa. As crianças choravam e sua mulher gritava. Sempre falta alguma coisa. Sentado em sua poltrona, em meio a escuridão, tentou sintonizar algum canal na televisão. Não havia sinal mas isso não era importante. Naquela pequena sala, iluminada apenas pela luz da televisão fora do ar, ouvindo gritos e choros, ele esboçou um tímido sorriso de satisfação, presente apenas no lado direito de sua boca. Era uma fria noite de inverno e ele tinha a vida que quis ter.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

"O Início do Tempo"

.............................................(9:03 - caneta BIC)

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Esse não foi o primeiro sonho que tive, nem o primeiro sonho que desenhei. Entretanto é um sonho que representa o início, conforme explicarei mais adiante. Existem diversos tipos de sonhos e resolvi desenhar os mais intensos que tive. Os desenhos são imaginativos e servem principalmente como uma referência à minha fraca memória. Representar um sonho através de qualquer tipo de arte é extremamente difícil tendo em vista a infinidade de sons, imagens, sensações e sentimentos envolvidos. Do opulento banquete oferecido no mundo onírico não somos capazes de trazer à realidade nada além de míseras migalhas.

O que compartilho com vocês trata-se de uma fração mínima de um espetáculo atemporal no qual fui palco, autor, diretor, todos os artistas e o único membro da platéia. É necessário levar em consideração que o mundo onírico é o mundo das infinitas possibilidades. Nas palavras de Cícero (106-43 A.C.) “Não há nada tão tolo, tão impossível ou tão anti-natural que não possa acontecer num sonho.”

Portanto, partindo do princípio de que o sonho é a máxima expressão da liberdade, busquei manter o máximo de isenção no tocante as possíveis interpretações. Conforme declarou Friedrich Hebbel, dedicado estudante de sonhos, “Nos sonhos a fantasia vinga-se da razão, esse desavergonhado diabrete.”

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9:03

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Sonhei que estava em uma ilha. Fui levado à praia, de onde era possível contemplar o mar. Na linha do horizonte havia diversas pequenas ilhas. Havia silêncio e paz em meio à majestosa paisagem litorânea. O sol estava presente, mas não era visível. Podia ser tanto poente como nascente. O céu apresentava tons que se iniciavam na noite em busca (ou em fuga) do azul celeste, do amarelo, do laranja e do rosa, em meio a uma névoa serena. As estrelas, tão contemplativas quanto eu, pairavam sem vento.

Em meio a este cenário insólito (algo me dizia se tratar da região do Caribe), fui informado que as pequenas ilhas no horizonte representavam momentos específicos no tempo (marcadores naturais) e que o tempo havia se iniciado as 9:03.

terça-feira, 20 de abril de 2010

"O Esquecimento Herdará Minhas Lembranças"

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(Cinzas e Cinzeiros - grafite)
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Resolvi aderir ao Blog. O "fotolog" se mostrou obsoleto diante do "blogger". Evolução? Não. Simplesmente mudança. No novo ambiente virtual revisarei os antigos textos e escreverei novos. Abordarei novos temas. Um pouco das artes em que me aventuro. Um pouco dos sonhos que tenho. Um pouco da realidade que vivo.
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Dorme
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Por que escreves? Por que insistes em escrever?
Não és capaz de suportar a angústia?
Leste e queres ser lido. Entretanto não tens nada a dizer.
Tua solidão não pode ser compartilhada.

Tuas dores cabem somente a ti.
Tuas certezas e incertezas somente a ti fazem sentido.
Por que escreves, se jamais serás compreendido?
Por que escreves, se um dia, como todos os que um dia escreveram, serás esquecido?

Não importa o quão virtuoso és não poderás impedir a sorte.
Não importa qual caminho percorres, todos possuem o mesmo destino: a morte.
Por que escreves?
Dorme, e tenta lembrar dos sonhos ao acordar.