terça-feira, 13 de julho de 2010

"Gestalt Onírica"


(Borboletas e Lobos - Grafite)
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Esta borboleta trata-se de outro sonho. No meu sonho acredito que era uma mariposa, mas acabei por desenhar uma borboleta. Ultimamente tenho achado minhas referências gráficas mais interessantes, e até mesmo mais significativas, do que os próprios sonhos.

Henry Walter Bates teria adorado meu desenho. Ele foi um cientista britânico que estudou o mimetismo em borboletas na Amazônia durante o século XIX. Bates constatou que algumas espécies inofensivas se assemelhavam a espécies perigosas ou repugnantes e, desta forma, iludiam seus predadores.

Acredito que “os Hermanns” (Hesse e Rorschach) também teriam gostado do desenho.

O Hermann Hesse escreveu “O Lobo da Estepe” (um romance que narra as transmutações de um cinqüentão intelectualizado que encontra-se preso aos ideais burgueses de sua época, e que vive oscilando entre suas múltiplas possibilidades e a pluralidade do “ser”). Se um homem e até mesmo um lobo são capazes de uma pluralidade de almas, o que se dirá de uma borboleta com suas metamorfoses! Hesse não teria se utilizado da figura do lobo se tivesse pensado em borboletas.

Já Hermann Rorschach desenvolveu o “teste Rorschach”. Trata-se de um teste que utiliza as possíveis interpretações de manchas de tintas simétricas para estabelecer a dinâmica psicológica de um indivíduo. Acredita-se que, ao tentar organizar uma informação ambígua, a pessoa testada projeta aspectos de sua própria personalidade. Muitas das manchas lembram os desenhos encontrados em asas de borboletas.

O que mais chama a sua atenção neste desenho: o lobo ou a borboleta?

Max Wertheimer, Wolfgang Kohler e Kurt Koffka também teriam se interessado pelo desenho. Os três são considerados os idealizadores da Gestalt (uma teoria que possibilitou o estudo da percepção do ponto de vista psicológico). “(...) Segundo a Gestalt o cérebro é um sistema dinâmico no qual se produz uma interação entre os elementos, em determinado momento, através de princípios de organização perceptual (...). Sendo assim o cérebro tem princípios operacionais próprios, com tendências auto-organizacionais dos estímulos recebidos pelos sentidos.(...)”-http://pt.wikipedia.org/wiki/Gestalt
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Pergunto ao desenho: O que queres, borboleta? O que queres, lobo? O que fazes de ponta cabeça em meus sonhos?

“Lobos e Borboletas”

Sonhei que uma grande borboleta entrou na casa de minha familia. Ela sobrevoou a sala e pousou de ponta cabeça, sobre suas antenas, no chão, ao lado do sofá, próxima a mim. Enquanto a borboleta movia lentamente as asas, de uma forma rítmica e quase hipnótica, pude notar que nelas havia o desenho de um lobo.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

"Surrealismo Onírico"

("Bud, Terence e o Cadillac" - Caneta BIC)
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Nem todos os sonhos que tenho possuem um sentido palpável capaz de ser correlacionado com o mundo em que vivemos. O sonho que relato hoje foi marcante nesse sentido. Chamou minha atenção por ser aparentemente absurdo.
O mais espantoso de um sonho sem sentido é que ele pode ter qualquer sentido. É praticamente uma obra surrealista.
Salvador Dalí, profundo conhecedor das teorias de Freud, acreditava que qualquer imagem é capaz multiplicar seu significado até o infinito, dependendo exclusivamente da capacidade delirante do espectador da obra. Ele tratou da sua “teoria da paranóia crítica” em diversos textos, dentre os quais se destaca “La conquista de lo irracional”, publicado em 1935. Neste texto Dalí afirmou que não entendia algumas das imagens que ele mesmo criava não porque as mesmas careciam de significado. Ao contrario, ele defendia que o significado de sua obra era tão profundo, complexo, coerente e involuntário, que fugia da simples análise da intuição lógica.

“Bud, Terence e o Cadillac”

Sonhei que Bud Spencer e Terence Hill participavam de uma campanha publicitária da Rede Carrefour dirigindo um cadillac no estacionamento dos supermercados da empresa.

domingo, 4 de julho de 2010

"Dedo de Deus"

(Neve in the Dark - Grafite)

Este texto foi publicado inicialmente em meu fotolog. Foi escrito há muito tempo. Revisei algumas coisas, mas nada relevante.

Nas palavra abaixo há um pouco de Saulo, Tyler Durden, e Eu.

"Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento." (Romanos 12:2)

“Only after disaster can we be resurrected, it's only after you've lost everything that you're free to do anything. This is your life, and it's ending one minute at a time. You have to realize that someday you will die. Until you know that, you are useless.” (Chuck Palahniuk – Clube da Luta)


“O Dedo de Deus”

Muitas pessoas dizem já terem sido tocadas pelo Dedo de Deus. Ser tocado pelo Dedo de Deus é um momento de revelação da verdade. Trata-se de um momento de contato com o divino; de interação com o sagrado.
Seguia pela rua em direção ao MacDonalds como um dia Saulo seguiu pela estrada em direção a Damasco. O Dedo de Deus surgiu diante de seus olhos e tocou-lhe a fronte.
Ajoelhou-se, como um dia Saulo ajoelhou-se perante a presença divina. Humilde, como Saulo um dia o foi, perguntou: “Quem és Senhor? O que queres de mim?” - Atos 9:5.
A voz celestial indicou-lhe seu dever e ele obedeceu sem hesitar.
Prostrado de joelhos, ciente de seu destino, ergueu os olhos e vislumbrou o escuro orifício de 10,9 mm de diâmetro presente na ponta do Dedo prateado de Deus. O Dedo de Deus, em riste, possui 20,34 cm. O Dedo de Deus é o cano de uma Magnum .44 prestes a escrever, com ferro e pólvora, um evangelho de sangue.
São efetuados seis disparos. O tambor do revolver move-se 60 graus cada vez que o gatilho é acionado até completar uma volta. Após o sexto tiro o ciclo se completa. O ponto de chegada retorna ao ponto de origem. “Do pó vieste, ao pó voltará” - Gênesis.
Entretanto nenhum tiro foi ouvido. Nenhuma explosão de pólvora ecoou. Seguiram-se apenas seis estalos, curtos e secos.
Em seguida houve silêncio e ele respirou. Respirou com a insegurança e a dor daqueles que nunca antes sentiram o ar adentrar os pulmões. Respirou com a solidão e a fragilidade daqueles que dão o seu último suspiro. Sentiu frio e calor ao mesmo tempo. Enquanto expelia lentamente o ar que enchera seus recém descobertos pulmões, compreendeu que iria morrer um dia e lágrimas escorreram de seus olhos. Sua visão turvou-se. Seu pescoço foi incapaz de sustentar o peso de sua cabeça e seus olhos voltaram-se para o chão. Seus demônios desapareceram ao som de passos apressados que seguiam em direção à um beco próximo. Sua carteira havia sido roubada.

Assim como Saulo, mudou. “(...) eis que tudo se fez novo.” – II Cor 5.17.


sábado, 3 de julho de 2010

"Bolhas de Sabão"

(Guerra - Caneta BIC, com as cores invertidas)

Em minhas experiências de locomoção no mundo onírico senti que a vontade é mais relevante do que consciência física. A consciência do "ser" é mais importante do que a consciência do "corpo".
É difícil descrever como me desloco de um ponto a outro enquanto sonho. Às vezes parece que me propago; às vezes sinto como se saltasse entre cenários distintos; às vezes simplesmente deslizo pelo caminho; às vezes vôo.

Voar durante o sonho é compartilhar parte da sabedoria e da beleza das bolhas de sabão. Trata-se de uma experiência existencialista.
Uma bolha de sabão é uma forma perfeita e única que simplesmente voa. Ela não possui asas ou aerodinâmica. Inclusive, me vem à mente um filme chamado “A Fonte da Vida”. Neste grande filme Hugh Jackman interpreta um astronauta que viaja até uma nebulosa onde há uma estrela que está morrendo (chamada pelos Maias de Xibalba, onde teoricamente é o mundo dos espíritos). Sua nave espacial é uma bolha transparente (uma espécie de bolha de sabão). É um filme que fala sobre a morte em todos os aspectos e me pareceu genial utilizar-se da metáfora das estelas e das bolhas de sabão. Estrelas e bolhas de sabão têm muitas coisas em comum. Voar durante um sonho é ser um pouco estrela; é ser um pouco bolha de sabão; é ser livre; é ser vontade; é ser único; é ser efêmero.
Conforme falou Zaratustra:
“E mesmo eu, que estou voltado para a vida, acho que as borboletas, as bolhas de sabão e o que se assemelha a elas entre os homens são o que melhor conhece a felicidade.”
O desenho acima retrata um sonho que tive há algum tempo.

Guerra

Havia uma guerra e eu voei através de campos de batalha. Voei até o templo no alto da montanha. O templo parecia deserto, mas abrigava alguns refugiados assustados e eu temia por eles. Eu conhecia o templo e a montanha. Os soldados me seguiam a pé. Os soldados não me encontrariam. Eu voava em meio a cavernas. Eu voava, conhecia o templo e a montanha. Os soldados jamais me alcançariam. Havia um baú em uma das cavernas.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

"Garoto Perdido"

(Gancho - Caneta BIC, com as cores invertidas)

À minha volta o mundo, em um ritmo frenético, é devorado. Eu vivo e sonho como nunca, minha cara Wendy.

A história de Peter Pan sempre me fascinou. Impossível não se entreter com as aventuras de garotos perdidos que voam, gozam da juventude eterna e combatem piratas em uma terra mágica onde tudo é possivel.
A idéia de Peter Pan influenciou inclusive o mundo da psiquiatria, que utiliza a terminologia “síndrome de Peter Pan” para adultos que se recusam a agir conforme a idade ou que receiam responsabilidades e comprometimentos. Também existem estudos acerca dos arquetipos femininos da obra, representados por Sininho e Wendy.
Toda a história me parece altamente metafórica. Os piratas são adultos ganaciosos, invejosos, vingativos e rancorosos, que vivem em constante luta contra os garotos perdidos, representantes de uma juventude transviada, rebelde, livre e irresponsável. Capitão Gancho e Peter Pan. Adultos e crianças. Pais e filhos.
Os piratas são interessantíssimos, pois querem voar como os garotos perdidos. Trata-se de uma busca pela infância perdida. Trata-se de uma busca pelo sentimento de felicidade capaz de fazer voar. Infelizmente esta capacidade se perdeu em meio a sentimentos egoístas com o passar do tempo. Na história de James M. Barrie o tempo é personificado pelo crocodilo gigante com um relógio em seu interior. O tempo é um perseguidor implacável que incomoda principalmente os mais velhos, devorando-os pouco à pouco ou engolindo-os inteiramente. Também gosto da personificação do tempo na figura do coelho de Lewis Carroll em Alice: sempre a nossa frente, sempre com pressa, sempre correndo e sempre atrasado.

“Carta à Wendy”
Todos estão morrendo.
Sou o único que ainda quer ser jovem para sempre.
O único qua ainda não quer crescer.
Sou o último garoto perdido.
Nunca vou envelhecer.

Segue abaixo um velho conto dentro do contexto, publicado em meu velho fotolog, com pequenas revisões mas ainda com possíveis imperfeições.

“Voar”
Havia um par de asas em meio aos escombros de sua tragédia.
Resolveu colocar-las e sentiu-se leve, muito leve. Tão incrivelmente leve que parecia poder voar. Quando deu-se conta, estava flutuando.
O inesperado poder de voar o fez esquecer-se de suas preocupações. Era a personificação do sentimento de liberdade. Era livre como um pássaro. Simplesmente voava. Sobrevoou ao redor do lustre de seu quarto, deu um rasante sobre a cama e saiu pela janela aberta. Sentiu o vento e logo depois o sol iluminou seu rosto. Iniciou uma subida vertiginosa e tudo foi ficando menor. Suas tragédias começaram a diminuir. A triste casa, cheia de pessoas tristes, foi diminuindo até tornar-se um pequeno telhado em meio a outros pequenos telhados de pequenas casas, que eram separadas por pequenas ruas cheias de pequenos carros e pessoas insignificantes. Logo, tudo era pequeno e insignificante. Continuou seu caminho para o alto. Se conseguisse voar alto o bastante o mundo inteiro tornaria-se apenas um pequeno ponto que desapareceria gradativamente no decorrer da subida.
Entretanto, quanto mais subia mais a temperatura baixava. Já não podia suportar o frio. Começou a sentir tontura devido à escassez de oxigênio e viu-se obrigado a interromper sua trajetória. Parado no ar a uma altura desconhecida, com os braços abertos em meio à imensidão celeste, contemplou o horizonte. Era possível ver a curvatura da terra e o sol refletia um oceano distante. Nenhum pensamento ocupava sua mente. Em meio ao silêncio e a solidão era possível sentir o movimento do universo ao seu redor. Deixou-se levar. Foi durante esse momento de integração com o mundo que criou seu próprio destino. Poderia fazer o que bem entendesse. Era livre e tinha asas para voar. Decidiu viajar.
Apesar de ser aparentemente a decisão mais lógica a ser tomada naquele momento, sua vontade de viajar possuía origem em um instinto primitivo. Vivia o inverno de sua vida e estava motivado pelo mesmo sentimento de migração que faz com que, todos os anos, milhares de pássaros voem em busca de terras desconhecidas. Era como um chamado distante, que emanava de dentro de seu próprio corpo, clamando por algo que lhe faltava.